''Um vento forte bateu em meu rosto fazendo meus cabelos esvoaçarem para trás.
As rosas que eu tinha à mão não estavam mais perfumadas e os espinhos-que antes eu evitava de tocar-machucavam meus dedos,deixando cicatrizes breves.
Eu usava um sobretudo preto,a roupa adequada para um ritual fúnebre.
Nada me fazia mais sentido.As noites tinham se tornado frias - mesmo no calor de janeiro-,nenhuma luz pairava sobre minha cabeça e todas as minhas lembranças tornavam meu corpo pesado e impossibilitavam meus pés de obedecerem as ordens austeras que meu cérebro insistia em dar.
Me ajoelhei na grama recém cortada do jardim e enquanto acariciava as pétalas das flores,ao invés de despedaça-las num infeliz bem-me-quer-mal-me-quer me vi de volta a um passado recente:
Você se jogou para trás rindo de uma piada que eu não ouvira.Eu perguntei por que, você fez caso e disse:
-Não é nada
Mas eu sabia que era alguma coisa; ninguém ri por nada certo?
A cada dia você ficava mais afastado...distante...longe... intocável. A cada dia sus palavras se tornavam mais superficiais e irrelevantes.Os sorrisos eram tão falsos e mascarados que não os reconhecia mais,e,mesmo esses,eram raros.
Varias vezes cometi a burrice de te pedir para voltar a ser o bom e velho cara que eu amava,mas você havia mudado e,acima de tudo eu havia mudado.
Não eramos mais os mesmos bobos apaixonados,porque,sabe?A vida muda e a gente tem que crescer,ainda que doa.
Talvez o meu grande erro foi acreditar que você voltaria ...eu voltaria...que ambos correríamos de mãos dadas de volta ao que um dia fomos,mas eu era assim,e você sabia:otimista demais,boba demais.Era você quem deveria se encarregar de fincar meus pés no chão de não e deixar voar longe de mais da realidade...longe demais de você mas quando eu já estava alto o suficiente em meus devaneios,percebi que não estaríamos mais juntos,que eu era otimista demais, você pessimista demais e ainda que digam que opostos se atraem, não eram mais assim.Opostos são opostos e pronto acabou!
De repente eu me vi te desprezando,te vi me ignorando e,para mim estava claro: tinha acabado.
Certa vez jurei não te esquecer, não fazer o que fizera com todos os outros,porque você era diferente,mas,naquele momento,diferente era igual e igual significava Adeus.
-Adeus! - eu gritei muito mais para os meus antigos sentimentos do que para você.
Entoa,ali estava eu fazendo exatamente o contrario do que tinha te prometido,do que tinha me prometido...ali estava eu enterrando nosso amor ao lado de tantos outros que passaram por mim.
Joguei as rosas sobre o pequeno tumulo onde jazia há muito nossos sentimentos,sobre ele,rabiscado com uma letra quase ilegível se jazia as palavras: Aqui jaz um amor de verão
Levantei-me da grama batendo a sujeira dos joelhos da calça e olhei para o tumulo mais recente de relance,antes de deixa-lo para trás como um dia fiz com todos os outros.Talvez um dia eu voltasse ao cemitério particular do meu coração de mãos dadas com alguém realmente importante,talvez,somente talvez,mas por enquanto aquele lugar,o meu lotado cemitério do amor,era só meu e de mais ninguém.''
Tainá Alves
Nenhum comentário:
Postar um comentário